terça-feira, 18 de junho de 2024

Mulheres na ciência da computação: Margaret Hamilton e suas contribuições

Margaret e sua filha Lauren Hamilton

        O âmbito da computação é dominado por homens há muitos anos, não pela contribuição masculina exclusiva, mas pela não representatividade adequada das mulheres na tecnologia da informação. Margaret Hamilton é uma mulher que recebeu grande destaque na ciência da computação, não só pelos seus feitos técnicos, mas também pelo seu carisma e pioneirismo na engenharia de software.


O trabalho de Margaret Hamilton pôde abrir caminho para a visibilidade das mulheres nas academias de tecnologia, a sua genialidade pôde provar que, como mulher, era mais do que qualificada para realizar o seu trabalho.


Margaret liderou a equipe do desenvolvimento do software de voo da missão Apollo 11, trazendo à tona conhecimentos relevantes ainda para os dias atuais. Após isso, fundou a Hamilton Technologies, onde pôde continuar seus trabalhos na computação de maneira mais autônoma.


Nos dias atuais, programas educacionais como Women in Technology e Girls Who Code citam Margaret como exemplo para estudantes e profissionais mulheres que buscam a carreira na computação. Além de Margaret, outras mulheres como Grace Hopper e Ada Lovelace também são citadas.


Margaret trabalhando durante as missões Apollo


A cada dia surgem novas conquistas para as mulheres no mundo, mas ainda existem muitos desafios a serem enfrentados, especialmente no meio tecnológico, onde mulheres sofrem com sub-representações e preconceitos no seu âmbito de estudo e trabalho. Hamilton pôde trazer à tona a capacidade feminina na tecnologia e ressaltar a necessidade de trazer as mulheres para a computação.


Além de uma grande cientista, Margaret é um grande símbolo para as mulheres da computação e das mais diversas áreas do conhecimento, abrindo portas para a representatividade e para a inclusão no meio de tecnologia.

 

Margaret Hamilton: contribuições para a Segurança de Software

Uma das principais áreas em que Margaret Hamilton inovou foi na introdução de práticas avançadas de engenharia de software para garantir a qualidade e a robustez do código desenvolvido. Ela implementou técnicas de verificação rigorosas, que incluíam testes extensivos e simulações, para identificar e corrigir potenciais problemas antes que eles se tornassem críticos.

 

Além disso, Hamilton foi uma das primeiras a desenvolver métodos de Tolerância a Falhas, Simulação de Falhas e Hierarquia de Prioridades no software, um conceito fundamental que permite que sistemas continuem a funcionar mesmo quando ocorrem falhas inesperadas. Essa abordagem foi essencial para as missões Apollo, onde qualquer falha no software poderia ter consequências desastrosas.

 

Ao promover a segurança de software, Margaret Hamilton não apenas melhorou a confiabilidade dos sistemas espaciais, mas também estabeleceu um precedente para práticas de engenharia de software em áreas críticas e sensíveis. Sua abordagem disciplinada e seu compromisso com a excelência técnica continuam a influenciar a indústria de software até os dias de hoje.

Hamilton Technologies

 Após suas contribuições notáveis no programa Apollo, Margaret Hamilton continuou a influenciar a indústria de software ao fundar sua própria empresa, a Hamilton Technologies. Fundada em 1986, a empresa foi um reflexo direto das experiências que Hamilton adquiriu durante seus anos na NASA.

 



A Hamilton Technologies concentrou-se em desenvolver sistemas de software de alta confiabilidade, uma área em que Hamilton já havia demonstrado excelência ao liderar a equipe responsável pelo software de orientação de voo para as missões Apollo. A empresa assumiu projetos desafiadores que exigiam não apenas habilidades técnicas avançadas, mas também um compromisso com os mais altos padrões de qualidade e segurança.

 

Um dos projetos notáveis da Hamilton Technologies foi o desenvolvimento de sistemas de software para aplicações críticas em áreas como aviação, medicina e defesa. Sob a orientação de Hamilton, a empresa continuou a estabelecer novos padrões de inovação e confiabilidade, consolidando sua reputação como líder no setor de software de missão crítica.

 

Além de suas realizações empresariais, a Hamilton Technologies também serviu como plataforma para Hamilton promover sua visão sobre a engenharia de software e a importância da robustez e segurança nos sistemas computacionais. Ela continuou a advocar por práticas de engenharia de software que ela ajudou a desenvolver na NASA, influenciando assim gerações de engenheiros e desenvolvedores.


Margaret Hamilton e o Termo "Engenheira de Software"


 Margaret Hamilton é uma figura central na história da computação, conhecida não apenas por suas contribuições técnicas significativas, mas também por seu impacto cultural ao cunhar o termo "engenheira de software". Em uma época em que o desenvolvimento de software ainda era uma disciplina emergente, Hamilton foi uma das primeiras a reconhecer a importância crucial de tratar o software como uma forma de engenharia.

 

Durante seu trabalho na NASA, especialmente no desenvolvimento de software para o programa Apollo, Hamilton percebeu que o software para sistemas críticos como os da nave Apollo não poderia ser tratado de maneira informal. Ela defendia que o software deveria ser projetado, desenvolvido e testado com os mesmos rigor e método que qualquer outro sistema de engenharia complexo, para garantir que o software fosse robusto o suficiente para suportar as missões espaciais.

 

O termo "engenheira de software" foi uma extensão natural desse pensamento. Hamilton viu a necessidade de distinguir aqueles que projetam e constroem software de maneira profissional e sistemática dos programadores tradicionais da época. Ela queria enfatizar que o software não era apenas uma sequência de instruções, mas um componente crítico que exigia habilidades técnicas e métodos disciplinados.

 

Assim, ao citar o termo "engenheira de software", Margaret Hamilton não apenas definiu uma nova profissão, mas também promoveu uma mudança de paradigma na forma como o mundo percebe e valoriza o desenvolvimento de software. Sua visão e liderança pavimentaram o caminho para a transformação da indústria de software, estabelecendo padrões de excelência.

segunda-feira, 17 de junho de 2024

Margaret Hamilton, a Empreendedora: Além da NASA

Margaret Hamilton dentro do Módulo de Comando da missão Apollo.

  Após sua contribuição inestimável para as missões Apollo da NASA, Margaret Hamilton continuou a trilhar um caminho de inovação e liderança no mundo da tecnologia. Em 1976, ela fundou a Higher Order Software (HOS), uma empresa dedicada a prevenir erros de software antes que eles ocorressem. A abordagem pioneira de Hamilton à engenharia de software enfatizava a importância da prevenção de erros, em contraste com o modelo reativo predominante na época.

A HOS desenvolveu o USE.IT, um sistema operacional e linguagem de programação baseados nos princípios de desenvolvimento de software que Hamilton havia implementado na NASA. Este sistema foi projetado para ser mais confiável e eficiente, reduzindo os custos e o tempo necessários para o desenvolvimento de software.

Em 1986, Hamilton fundou outra empresa, a Hamilton Technologies, Inc., baseada no paradigma Universal Systems Language (USL) e na teoria do desenvolvimento antes do fato (DBTF), ambos criados por ela. A USL é uma linguagem de modelagem de sistemas que visa capturar e especificar completamente os requisitos e comportamentos dos sistemas.


Margaret Hamilton no MIT durante a missão Apollo 11.

O trabalho de Hamilton como empreendedora estendeu seu legado além da exploração espacial para influenciar a indústria de software como um todo. Suas empresas e inovações refletem sua visão contínua para a engenharia de software e seu compromisso com a melhoria da qualidade e confiabilidade do software.

Através desses empreendimentos, Margaret Hamilton provou ser não apenas uma cientista da computação pioneira, mas também uma líder empresarial visionária cujas ideias continuam a moldar o futuro da engenharia de software.


A Evolução da Defesa Aérea: O Projeto SAGE e o Legado de Margaret Hamilton


Imagem de Margaret Hamilton em 1995.

O mundo da tecnologia militar deu um salto significativo com o desenvolvimento do Semi-Automatic Ground Environment (SAGE), um sistema de defesa aérea que representou uma revolução na maneira como as forças armadas dos Estados Unidos monitoravam e respondiam a ameaças aéreas durante a Guerra Fria. Este sistema, desenvolvido pelo MIT Lincoln Laboratory, foi o primeiro do seu tipo e estabeleceu as bases para a moderna defesa aérea e o processamento de dados em larga escala.

O SAGE foi uma resposta direta à crescente tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética, especialmente após a notícia de que os soviéticos haviam desenvolvido sua própria bomba atômica. A necessidade de um sistema que pudesse detectar e interceptar aeronaves hostis antes que elas alcançassem o espaço aéreo americano tornou-se uma prioridade. O SAGE utilizava uma rede de radares e computadores para criar um perímetro de defesa inédito, capaz de processar informações em tempo real e coordenar respostas a ameaças potenciais.

Monumento "Conquistadores do Espaço" em Moscou, Rússia Este famoso monumento foi erguido em 1964

Hamilton trabalhou no SAGE entre 1961 e 1963 no MIT Lincoln Lab, onde foi uma das programadoras que escreveu software para o protótipo do computador AN/FSQ-7 (XD-1), utilizado pela Força Aérea dos EUA para buscar aeronaves potencialmente hostis.

O trabalho de Hamilton no SAGE e, posteriormente, na NASA, não apenas contribuiu para a segurança nacional dos Estados Unidos, mas também pavimentou o caminho para o avanço das mulheres na ciência e tecnologia. Ela é frequentemente celebrada por sua abordagem inovadora na engenharia de sistemas e desenvolvimento de software, que estabeleceu padrões para muitas das práticas modernas em ciência da computação e engenharia de software.

O legado do SAGE e de Margaret Hamilton é um testemunho do poder da inovação e da colaboração interdisciplinar. O projeto não só protegeu os céus americanos durante um período de incerteza global, mas também inspirou gerações de cientistas e engenheiros a pensar além dos limites tradicionais e a buscar soluções criativas para os desafios de sua época.

Desfile militar no 18º aniversário da Guerra Patriótica. Moscou, Rússia.

Hoje, olhamos para trás para o projeto SAGE e para o trabalho pioneiro de Margaret Hamilton como exemplos brilhantes do impacto duradouro que a tecnologia militar e a engenharia de software podem ter na história e no progresso humano. Eles nos lembram que, mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras, a inovação e a determinação podem levar a avanços extraordinários que moldam o futuro.

domingo, 16 de junho de 2024

Margaret Hamilton: A Mulher que Levou o Homem à Lua

Margareet Hamilton ao lado da pilha de códigos escrita por ela e sua equipe de desenvolvimento na Nasa.

Margaret Hamilton trilhou uma carreira excepcional como engenheira, matemática e cientista da computação, principalmente na Nasa, de onde parte de seus maiores feitos foram reconhecidos.


Durante a guerra fria, uma grande tensão tecnologia pairava no ar, os Estados Unidos e a União Soviética travavam uma disputa tecnológica para provar quem era a nação mais bem sucedida tecnologicamente. Os EUA planejavam a ida do homem à lua como o rito final da corrida espacial. Margaret, que já era pesquisadora no instituto de tecnologia de Massachusetts, desenvolveu um software no Laboratório Lincoln do MIT para o primeiro sistema de defesa antiaérea dos EUA, mas quando descobriu sobre a procura de cientistas para levar o homem a lua, se juntou à equipe rapidamente.

A Nasa solicitou para que esses cientistas inventassem o primeiro computador digital de bordo (O “AGC” ou “Apollo Guidance Computer”), um dispositivo compacto que fosse capaz de guiar, navegar e controlar a nave espacial até a superfície lunar.


Imagem do Apollo Guidance Computer com o hardware, visor e teclado.

É importante notar que nessa época os computadores ocupavam salas inteiras, e a carga da aeronave deveria ser a menor possível para não atrapalhar a decolagem. 


A equipe de tecnologia foi dividida em duas partes, uma para o hardware e outra para o software, e Margaret ficou encarregada como líder do projeto de desenvolver o software de voo. Após a criação do software, essa metodologia de trabalho ficou conhecida como “Engenharia de software”.


O software encarregado à Margaret deveria fazer uma análise precisa em tempo real de erros inesperados do voo e resolvê-los sem a intervenção dos pilotos. A problemática é que os softwares daquela época apenas eram capazes de realizar tarefas em uma ordem pré estabelecida, apresentando erros ao encontrar resultados não esperados.


Para solucionar essa questão, Margaret e a sua equipe desenvolveram um software assíncrono, ou seja, que fosse capaz de interromper tarefas menos importantes em detrimento das mais importantes, garantindo que o software funcionasse independentemente de qualquer valor inesperado.


Após a entrega bem sucedida do software, Margaret imaginou que o software poderia auxiliar os astronautas de maneira gráfica a realizarem as suas funções. Ela então criou o “Priority Display”, que era uma tela que poderia interromper as tarefas atuais dos astronautas para alertá-los a respeito de alguma emergência.


Imagem de Louis Armstrong pousando na lua em 16 de julho de 1969, disponibilizada pela Nasa.


Segundos antes do voo aterrissar, o software pôde detectar problemas fatais de sobrecarga e realizar o processamento dos trabalhos prioritários para a aterrissagem, também permitindo que os astronautas se comunicassem rapidamente com a torre de controle, realizando a descida bem sucedida da aeronave na terra.


Margaret Hamilton contribuiu fortemente para a ciẽncia da computação e para a história da humanidade, sendo reconhecida mundialmente pelos seus feitos.

Mulheres na ciência da computação: Margaret Hamilton e suas contribuições

Margaret e sua filha Lauren Hamilton           O âmbito da computação é dominado por homens há muitos anos, não pela contribuição masculina ...